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sexta-feira, 15 de julho de 2011

A vida no anexo secreto

           
          Na manhã de segunda-feira, 6 julho de 1942, a família mudou-se para seu esconderijo, um anexo secreto. O apartamento deles foi deixado em um estado de desordem para criar a impressão de que tinham partido repentinamente, Otto Frank deixou uma nota que insinuava que eles estavam indo para a Suíça. A necessidade de sigilo forçou a deixar para trás o gato de Anne, Moortje. Como os judeus não estavam autorizados a utilizar os transportes públicos, eles andaram vários quilometros, com cada um deles vestindo várias camadas de roupa, pois não podiam ser vistos carregando bagagem. O Achterhuis (a palavra neerlandesa que denota a parte traseira de uma casa, traduzido como "anexo secreto") era um espaço de três andares, com entrada a partir de um patamar acima dos escritórios Opekta. Duas salas pequenas, com um banheiro contíguo ficavam no primeiro nível, acima de um maior espaço aberto, com uma pequena sala ao lado. A partir desta sala menor, uma escada levava ao sótão. A porta para o Achterhuis foi, posteriormente, coberta por uma estante de livros para garantir que ele permanecesse oculto. O edifício principal, situado a uma quadra da Westerkerk ("igreja do oeste"), era o tipo de edifício típico dos bairros ocidentais de Amisterdã.
Victor Kugler, Johannes Kleiman, Miep Gies e Bep Voskuijl trabalhavam no escritório e era os únicos que sabiam do moradores escondidos, juntamente com o marido de Gies, Jan Gies e o pai de Voskuijl, Johannes Hendrik Voskuijl, foram os "ajudantes" no período de confinamento. Estes eram a única ligação entre o mundo exterior e os ocupantes da casa, eles os mantinham informados das notícias da guerra e seus desdobramentos políticos. Além disso, atendiam todas as suas necessidades, garantido a sua segurança e lhes forneciam alimentos, uma tarefa que ficou mais difícil com o passar do tempo. Anne Frank escreveu sobre a dedicação e os esforços dos amigos para elevar a moral dentro da casa durante o período mais perigoso. Todos estavam cientes de que, se pegos, podiam ser condenados a pena de morte por abrigar judeus.
Em 13 de julho de 1942, a família van Pel se juntou aos Frank no confinamento: Hermann, Auguste e Peter de 16 anos de idade, em seguida, em novembro foi a vez de Fritz Pfeffer , um dentista e amigo da família também ir para o abrigo. Frank escreveu de seu prazer em ter novas pessoas para conversar, mas as tensões rapidamente se desenvolveram dentro do grupo, forçado a viver em tais condições de confinamento. Depois de dividir o quarto com Pfeffer, ela descobriu que ele era insuportável e se ofendeu com sua intrusão, também entrou em choque com Auguste van Pels, a quem ela considerava um tolo. Ela considerava Hermann van Pels e Fritz Pfeffer egoístas, particularmente no que diz respeito à quantidade de alimentos consumidos. Algum tempo depois, após não ter se dado bem com o tímido e desajeitado Peter, eles começaram a se entender e começaram um romance. Seu primeiro beijo foi com Peter, mas sua paixão por ele começou a diminuir quando ela questionou se os seus sentimentos por ele eram genuínos, ou resultado do confinamento compartilhado. Anne Frank criou um vínculo estreito com cada um dos ajudantes e Otto Frank relembrou mais tarde que ela ficava entusiamada esperando ansiosamente as visitas. Ele ainda observou que Anne era muito amiga de Bep Voskuijl, "o jovem datilógrafo ... os dois muitas vezes ficavam sussurrando pelos cantos."
No seu texto, Frank examinou seus relacionamentos com os membros de sua família, e as fortes diferenças de personalidades. Ela se considerava a mais próxima emocionalmente a seu pai, que depois comentou: "Eu tinha um melhor relacionamento com Anne do que com Margot, que era mais apegada à mãe. A razão para isso pode ter sido o fato de Margot raramente mostrar seus sentimentos e não precisar de tanto apoio porque não sofria mudanças de humor como Anne." As irmãs Frank começaram uma relação mais estreita do que tinham antes de se esconderem, embora Anne às vezes expressasse ciúmes em relação a Margot, particularmente quando os moradores do esconderijo criticavam Anne por não ter a natureza gentil e plácida de Margot. Com o amadurecimento, as irmãs foram capazes de confiar mais uma na outra. Em 12 de janeiro de 1944, Anne escreveu, "Margot está muito melhor... Ela não está tão hostil esses dias e está se tornando uma verdadeira amiga. Ela não me vê mais como um bebê que não conta."
Frank escreveu freqüentemente sobre seu difícil relacionamento com a mãe e de sua ambivalência em relação a ela. Em 7 de novembro de 1942, ela descreveu seu "desprezo" por sua mãe e sua incapacidade de "confrontar-la com o seu descuido, seu sarcasmo e sua dureza de coração", antes de concluir: "Ela não é uma mãe para mim." Mais tarde, como ela retrata no diário, Anne sentiu-se envergonhada da sua atitude severa, escrevendo: "Anne, foi você mesma que mencionou o ódio, oh Ana, como você pôde?" Ela veio a entender que suas diferenças resultaram de mal-entendidos que foram tanto culpa dela como da mãe, e viu que tinha escrito desnecessariamente, que a mãe sofria com a situação. Com essa percepção, Frank começou a tratar a mãe com um grau de tolerância e respeito.
As irmãs Frank queriam voltar para a escola assim que pudessem, e continuaram com os estudos enquanto estavam escondidas. Margot entrou em um curso por correspondência no nome de Bep Voskuijl, e recebeu notas altas. A maior parte do tempo Anne passou lendo e estudando, e ela regularmente escreveu e editou seu diário. Além de fornecer uma narrativa dos acontecimentos como aconteceram, escreveu sobre seus sentimentos, crenças e ambições, assuntos que não podia discutir com ninguém. Com o crescimento da confiança na sua escrita, e seu próprio amadurecimento, ela começou a escrever sobre assuntos mais abstratos, tais como sua crença em Deus e como ela definia a natureza humana.

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